PORQUE NÃO SINCRONIZAR?
Assisti a um concerto da Orquestra Sinfônica Brasileira, regida pelo Maestro Roberto Minczuk, na Sala São Paulo. Pela primeira vez, sentei-me atrás da orquestra e pude prestar atenção à derradeira fila dos instrumentistas. Alguns deles têm de ser polivalentes. Acompanham a partitura e sabem, exatamente, qual é o momento que têm de acionar o seu ofício. Sem aquele som, aquele toque, aquela intervenção, não se conseguirá a harmonia idealizada pelo autor.
Assisti à vibração desses protagonistas com o desempenho do solista. Entusiasmavam-se com o resultado obtido e emocionavam-se com os aplausos. Por sinal que auditório capaz de trocar uma tarde de domingo com a instrutiva televisão brasileira por um concerto na Sala São Paulo só pode ser bem educada. Até as indefectíveis tosses não compareceram. Nem os insuportáveis toques de celular de quem “se esqueceu” de desligá-lo, nada obstante a recomendação ao início do espetáculo.
Pensei que acompanhar um ensaio da orquestra, saber o papel de cada instrumento e tentar penetrar nesse universo em que a sincronia é fundamental seria excelente exercício para os responsáveis por políticas públicas no Brasil. Por que não conseguimos sincronizar nossa ação? Por que deixamos invadir áreas de mananciais, por que hesitamos em repor a ordem, por que complicamos em vez de simplificar? Por que a autoridade não é sempre transparente, clara, objetiva e direta? Por que se permite tanta informação falha, por que se prestigia a burocracia e o formalismo?
O Poder Público no Brasil padece de crônica enfermidade em quase todos os setores. A educação é uma lástima. A saúde, uma tragédia. A segurança, um disparate. A Justiça, um cipoal imenso tecido num labirinto cuja entrada foi bem ampliada – o acesso ao Judiciário é hoje facultado a todos os brasileiros – mas que não consegue resolver o funil da saída. Quem é que pode garantir a alguém que precise do Judiciário, ainda que coberto de razão – à luz da compreensão do homem comum – que o seu direito será reconhecido pela Justiça? Ninguém. Tantos e tais os meandros processuais criados por quem prefere a pasteurização do conflito em lugar de sua solução.
Há muito a se aprender com a orquestra, onde não há constrangimento algum em aguardar sua hora, ninguém quer sobressair, mas se sente honrado por oferecer um resultado que é evidência da importante participação de todos.
José Renato Nalini é Desembargador da Câmara Especial do Meio Ambiente do Tribunal de Justiça de São Paulo
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